simone de beauvoir em o segundo sexo (vol. 2):

O fato de ser um ser humano é infinitamente mais importante do que todas as singularidades que distinguem os seres humanos. A “virtude”, como diziam os antigos, define-se ao nível do “que depende de nós”. Em ambos os sexos representa-se o mesmo drama da carne e do espírito, da finalidade e da transcendência; ambos são corroídos pelo tempo, vigiados pela morte, têm uma mesma necessidade essencial do outro; podem tirar de sua liberdade a mesma glória; se soubessem apreciá-la não seriam mais tentados a disputar-se privilégios falazes; e a fraternidade poderiam então nascer entre ambos. (…)

Em todo caso, objetarão alguns, se tal mundo é possível, não é desejável. Quando a mulher for “igual” ao homem, a vida perderá seu “sal pungente”. Este argumento não é tampouco novo: os que têm interesse em perpetuar o presente vertem sempre lágrimas sobre o mirífico passado que vai desaparecer sem conceder um sorriso ao jovem futuro. É verdade que, suprimindo os mercados de escravos, acabaram com as grandes plantações tão magnificamente ornadas de azaléas e camélias, arruinaram toda a civilização sulista [dos Estados Unidos]; as velhas rendas juntaram-se, no sótão, aos timbres tão puros dos castrados da Cistina e há um certo “encanto” feminino que ameaça, ele também, desfazer-se em pó. Convenho em que é ser um bárbaro não apreciar as flores raras, as rendas, a voz cristalina do eunuco e o encanto feminino. Quando se exibe, em todo o seu esplendor, a “mulher encantadora” é um objeto bem mais exaltante do que “as pinturas idiotas, ornatos de portas, cenários, telas de saltimbacos, tabuletas, iluminuras populares” que embeveciam Rimbaud; enfeitada com os mais modernos artifícios, trabalhada segundo as mais novas técnicas, ela chega do fundo dos séculos, de Tebas, de Minos, de Chichen Itza; e é também o totem plantado no coração do sertão africano; é um helicóptero e é um pássaro, e eis a maior maravilha: sob seus cabelos pintados o sussurro das folhagens faz-se pensamento e palavras escapam-lhe dos seios. Os homens estendem as mãos ávidas para o prodígio; mas logo que o pegam ele se dissipa; a esposa, a amante valem exatamente o que valem; seus seios também. Um milagre tão fugidio – e tão raro – merecerá que perpetuem uma situação nefasta para ambos os sexos? Pode-se apreciar a beleza das flores, o encanto das mulheres e apreciá-los pelo seu justo valor; se tais tesouros se pagam com sangue ou desgraça, cumpre saber sacrificá-los.

O fato é que esse sacrifício parece singularmente pesado para a maioria dos homens. Pondo-se a existir para si, a mulher abdicará a função de duplo e de mediadora que lhe outorga seu lugar privilegiado no universo masculino; para o homem solicitado pelo silêncio da natureza e a presença exigente de outras liberdades, um ser que seja a um tempo seu semelhante e uma coisa passiva apresenta-se como um grande tesouro.

Entre outras coisas, nada me parece mais contestável do que o slogan que vota o mundo novo à uniformidade, logo ao tédio. Não vejo ausência de tédio neste mundo, nem nunca vi que a liberdade criasse uniformidade. É quando for abolida a escravidão de uma metade da humanidade e todo o sistema de hipocrisia que implica, que o casal humano encontrará sua forma verdadeira.

por socorro

a verdade é que não tenho tido tempo bastante para fuçar no wordpress. quando importei minhas coisas, veio a lista de blogs sem feed. tentei mudar em widgets e ferramentas e não consegui. também não consegui tirar a lista de marcadores, que não uso mais há anos.

de repente alguém já passou por isso por aqui?

um dia eu volto, quem sabe. =)

marcha das vadias

me meto na discussão na mesma direção dos esforços da marcha das vadias curitiba — tentar ser um espaço solidário para todas.

o mote desse movimento é que estupro não é culpa da vítima.

elas estão coletando histórias sobre violência de gênero, as histórias que fazem a marcha das vadias curitiba. você pode postar anonimamente aqui:

marchadasvadiascwb.blogspot.com/2011/06/somos-todas-madalenas.html

a vadia em grau extremo, por rebecca mott

http://rmott62.wordpress.com/2011/05/10/the-ultimate-slut/

Rebecca Mott

A Vadia em Grau Extremo*

Este ano tem havido um movimento para a Slutwalk, que pegou como um incêndio entre mulheres privilegiadas, e tem muitas raízes no comércio do sexo.

Surgiu de uma boa ideia, a de que nenhuma menina ou mulher deve ser estuprada ou molestada por causa das roupas que está usando – ou seu estilo de vida. Isso é verdade – mas para a propaganda do comércio do sexo, tem sido uma verdade fácil de manipular.

Afinal, a Vadia em Grau Extremo está frequentemente sob o controle do comércio sexual – ela é a prostituta, ela está na pornografia violenta, ela é a acompanhante, ela é consumida por turistas sexuais.

Então, se você escolhe ressignificar o termo Vadia – saiba que você pode fazer isso de uma posição profundamente privilegiada à qual a Vadia em Grau Extremo não tem acesso. Se você escolhe dizer que é empoderador ser chamada de Vadia – então ouça e escute mulheres e meninas dentro do comércio sexual que são despidas de poder e não têm voz.**

Marchar como vadia não é falar para ou pelas Vadias em Grau Extremo. É falar através e por cima delas.

Isso seria chamado de arrogância se fosse conduzido por homens. Por que as mulheres que saíram da prostituição pretendem ser tolerantes, só porque foi inventado por mulheres?

Se você quer saber o que é ser uma vadia, uma puta sem liberdade de movimento, liberdade de expressão, liberdade de segurança – então se ponha na pele de uma Vadia em Grau Extremo.

Meninas e mulheres dentro*** de boa parte das atividades do comércio sexual são estupradas, espancadas e assassinadas não importa o que elas vistam, não importa o ambiente em que sejam colocadas.

Que esforço existe, da parte da Slutwalk, para fazer qualquer diferença prática em relação a isso?

Pelo contrário, muitas que se juntam à Slutwalk dizem que as mulheres – deixando para lá o tema espinhoso que são as meninas – escolhem estar no comércio do sexo. Que para essas mulheres, ser prostituta é apenas seu trabalho.

Então, elas marcham em solidariedade orgulhosa para manter o comércio do sexo seguir normalmente seu curso.

Se estivesse me sentindo bem, eu diria que isso é mirar com um olho cego toda violência que é norma dentro do comércio do sexo. Mas hoje eu não estou a fim de ser legal – eu diria que é uma atitude profundamente privilegiada e egoísta, que enxerga as mulheres dentro do comércio do sexo como sub-humanas, que só são boas para ser usadas como propaganda.

Quantas das mulheres que insistem no argumento de que negociar com sexo é só trabalho já fizeram isso em tempo integral por muitos anos, sem poder ou escolha sobre que machões vão usá-las?

Quantas das mulheres que insistem no argumento de que negociar com sexo é só trabalho já viveram em condições nas quais o estupro é tão normal que não se pode distingui-lo, nas quais é normal uma mulher desaparecer, nas quais “não” não significa nada?

Diga que isso é trabalho quando você tiver tido filas de homens esperando para derramarem todas as suas fantasias pornográficas em teu corpo vivo.

Diga que isso é trabalho quando você perde sua fala ou quando seu desejo de protestar apenas resulta em sexo mais sádico ou em ameaças de morte.

Esteja na pele de uma Vadia em Grau Extremo, então siga em sua Slutwalk.

Eu nunca vou me apropriar do termo Vadia – porque nunca vou permitir que a violência e o ódio masculinos contra a classe prostituída seja feito mais invisível por mulheres dizendo que está tudo bem em ser chamada de Vadia.

Vadia é um termo masculino de profundo desprezo e ódio por todas as mulheres e meninas -, mas para a Vadia em Grau Extremo, os homens estão dizendo que ela não é senão uma coisa que ele vai foder no lixo.

Como é possível se apropriar disso?

Este é curto, porque essa coisa toda está me fazendo muito mal. Lembre que minha doença é parte de ser constantemente relembrada que eu sou sub-humana por mulheres privilegiadas o suficiente para se apropriar do termo Vadia.

Eu não consigo esquecer o veneno desse termo – e queria demais conseguir.

Notas da tradutora Sabrina Lopes:

* Agradeço ao tradutor Ivan Justen pelas sugestões para Ultimate Slut.

** Eu preferiria dizer “não encontram ouvidos”.

*** A autora usa os termos “exited women” para ex-prostitutas, algo como mulheres libertadas da prostituição, e “inside”, dentro, que é também usado para designar pessoas presas no sistema carcerário.

zoona neste finde

ZOONA – encontro literário de Curitiba
Encontro reúne durante três dias mais de 35 escritorxs, poetas, performers e artistas de diferentes localidade
s em homenagem às obras dos escritores Valêncio Xavier e Wilson Bueno.

zoona-encontro-literario-de-curitiba

zoona-encontro-literario-de-curitiba

 

 

Mesas-redondas, performances, mostra de vídeo, intervenções, lançamento de livros e publicações, leitura de poesia e prosa (poema ao vivo), exposição documental e lançamento do suplemento literário vagau – edição exclusiva do evento. Essas são as atividades que integram a programação do ZOONA literária, que agitará Curitiba nos dias 15, 16 e 17 de abril.
Incentivado pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba, com realização da editora Medusa, o evento ZOONA literária acontecerá no Solar do Barão (Rua Carlos Cavalcanti, n. 533), à exceção da mostra de vídeo que terá suas sessões no Paço da Liber
dade (Praça Generoso Marques, 189). A curadoria do evento, assinada pelo poeta e editor Cláudio Daniel (SP) e pela poeta e artista visual Joana Corona (PR), tem como referência os trabalhos dos escritores Valêncio Xavier e Wilson Bueno. Uma homenagem que, sobretudo, realizar-se-á com a apresentação de trabalhos, ações e pensamento inventivos, modos de acessar o extraordinário legado composto pelas obras destes autores.
Embora seja um encontro literário, ZOONA transita por diferentes formas expressivas e portanto abrange um público heterogêneo, expandindo-se para outros campos artísticos. Entre os convidados das mesas-redondas estão os escritores Luis Ruffato (SP), Paulo Venturelli (PR), Raquel Stolf (SC), Victor Sosa (México) e Luis Serguilh
a (Portugal). Documentário, entrevista, videoarte, videopoema e filmes do Valêncio Xavier comporão a mostra de vídeo ZOONA, além de curtas de ficção de diversos diretores. As performances serão de Marcelo Sahea (RS), Ricardo Corona e Eliana Borges (PR). Maiores detalhes sobre a programação do evento estão disponíveis em:
http://www.zoonaencontroliterario.wordpr

ess.com.